Febril, sua mente vaga entre delírios e desejos. Ora pensando coisas desconexas e diálogos absurdos; ora tomada por desesperada vontade de se abster, nem que por uma fração de segundos, da enfermidade que lhe abate.
O suor frio
contrasta com o seu corpo todo que arde, e a incessante dor de
cabeça não apenas lhe martela o físico, mas também suas ideias,
impedindo as costumeiras e revigorantes viagens imaginárias.
Desavisado, não se
deu conta de que a pior coisa que o sofrimento nos pode roubar é o
senso de gratidão.
Ávido por soluções
imediatas, coisa típica dos escravos desta era, apressou-se em se
automedicar exageradamente. Tudo por um alívio, mesmo que este
fosse mortal.
Os excessos. Ah, os
excessos... Viciado em excessos. Viciado no vício.
A vida era uma moeda
em constante tensão entre seus dois lados. Prazer e dor, vício e
virtude, amor e indiferença, saúde e doença, alegria e tristeza,
vida e morte.
Sua doença não é de
agora, sua doença é a velha e insana tentativa de criar uma moeda de
apenas um lado.
Enterrado em seu
leito, recorre a fonte de satisfação mais acessível no momento. Apesar de sua condição debilitada, força-se a pensar
cenas pornográficas. O esforço para se concentrar faz aumentar
ainda mais a dor, causando-lhe até náuseas. Consciente do deus que
serve, sabe que deve obter prazer a qualquer custo.
Sim! As coisas começam
a dar certo! A medida que mergulha em pensamentos impuros, a
realidade se esvai e aquela sensação de anestesia que tanto ama,
lhe toma todo o corpo.
Tudo esta ali a seu
alcance, dentro de sua própria imaginação. Ele é senhor daquele
universo! Um mundo de luxurias e promiscuidades, ou simplesmente...
prazer. A qualquer momento, a qualquer hora, mas de preferencia
agora.
Numa enxurrada de cenas desprovidas de sentimentos, alcança o ápice! É completamente dominado pela maravilhosa sensação proporcionada pelo orgasmo. Ofegante e relaxado, tenta aproveitar ao máximo cada instante daquela experiência insignificante. Todavia a vida insiste em ser real.
Agora o sofrimento
físico encontra eco no sofrimento moral.
Epifania! Percebe que
o hedonismo nada mais é do que uma grande masturbação. Um estímulo
artificial e solitário em busca de sensações prazerosas. Solução
momentânea e rápida com consequências profundas e duradouras.
A realidade da dor faz
sucumbir todos os paraísos artificiais.
Olhou para trás e se
deu conta do tempo perdido. Chorou. Era tão dependente de estímulos
que se tornará insensível. O pôr-do-sol, o cheiro da chuva de
verão, as cores do dia, sons da natureza, o amor... Sua busca por
prazer tornou o prazer sem sentido.
Ouviu o som do velho
relógio na parede. Sorriu. Ainda há tempo.
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