...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Hedonismo: sofrimento, masturbação e vazio.



Febril, sua mente vaga entre delírios e desejos. Ora pensando coisas desconexas e diálogos absurdos; ora tomada por desesperada vontade de se abster, nem que por uma fração de segundos, da enfermidade que lhe abate.
O suor frio contrasta com o seu corpo todo que arde, e a incessante dor de cabeça não apenas lhe martela o físico, mas também suas ideias, impedindo as costumeiras e revigorantes viagens imaginárias.

Desavisado, não se deu conta de que a pior coisa que o sofrimento nos pode roubar é o senso de gratidão.
Ávido por soluções imediatas, coisa típica dos escravos desta era, apressou-se em se automedicar exageradamente. Tudo por um alívio, mesmo que este fosse mortal.
Os excessos. Ah, os excessos... Viciado em excessos. Viciado no vício.
A vida era uma moeda em constante tensão entre seus dois lados. Prazer e dor, vício e virtude, amor e indiferença, saúde e doença, alegria e tristeza, vida e morte.
Sua doença não é de agora, sua doença é a velha e insana tentativa de criar uma moeda de apenas um lado.

Enterrado em seu leito, recorre a fonte de satisfação mais acessível no momento. Apesar de sua condição debilitada, força-se a pensar cenas pornográficas. O esforço para se concentrar faz aumentar ainda mais a dor, causando-lhe até náuseas. Consciente do deus que serve, sabe que deve obter prazer a qualquer custo.

Sim! As coisas começam a dar certo! A medida que mergulha em pensamentos impuros, a realidade se esvai e aquela sensação de anestesia que tanto ama, lhe toma todo o corpo.
Tudo esta ali a seu alcance, dentro de sua própria imaginação. Ele é senhor daquele universo! Um mundo de luxurias e promiscuidades, ou simplesmente... prazer. A qualquer momento, a qualquer hora, mas de preferencia agora.

 Numa enxurrada de cenas desprovidas de sentimentos, alcança o ápice! É completamente dominado pela maravilhosa sensação proporcionada pelo orgasmo. Ofegante e relaxado, tenta aproveitar ao máximo cada instante daquela experiência insignificante. Todavia a vida insiste em ser real.
Agora o sofrimento físico encontra eco no sofrimento moral.

Epifania! Percebe que o hedonismo nada mais é do que uma grande masturbação. Um estímulo artificial e solitário em busca de sensações prazerosas. Solução momentânea e rápida com consequências profundas e duradouras.

A realidade da dor faz sucumbir todos os paraísos artificiais.

Olhou para trás e se deu conta do tempo perdido. Chorou. Era tão dependente de estímulos que se tornará insensível. O pôr-do-sol, o cheiro da chuva de verão, as cores do dia, sons da natureza, o amor... Sua busca por prazer tornou o prazer sem sentido.

Ouviu o som do velho relógio na parede. Sorriu. Ainda há tempo.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Despero Existencial


E de repente você abre o olho e precisa viver. Porém não só viver, como também ter sucesso, alcançar determinados patamares, corresponder às expectativas, ser feliz, ser um ser humano exemplar.


Mas como? Como assim? Eu não decidi estar aqui, não tive escolha; quando me dei conta o cronometro estava valendo, e pra piorar, jogando contra mim.

Eu sei, estou sendo extremamente prepotente, ingrato e outras tantas coisas, ao falar o que acabei de dizer. Desconsidere, por favor... isso é só um desabafo. Gemidos de uma alma cansada de seu desespero existencial.


Hoje é um daqueles dias onde gostaria de jogar tudo para o alto. TUDO! Dar a mim mesmo a chance de desistir, jogar a toalha, deixar cair.


Quase cheguei la, quase deu certo, quase consegui, foi por pouco! Quase!

Sou o quase, e como já dizia uma música, o quase não é nada.


Vejo olhares de desprezo, reprovação e apatia. Dane-se, não me importo mais. Alias, com o que me importo?

As luzes piscam, a batida hipnotiza, minha mente embriagada se entrega à uma sensação de sentido. Parece que por um momento o mundo não tem dores, não há injustiças, ódio, doenças... não existe o vazio. É como se temporariamente eu tocasse o paraíso, ou talvez mais profundo do que isso, como se ele entrasse nas minhas veias, e a cada batida do coração inundasse todo meu corpo. É um paraíso artificial, concordo, mas não deixa de ser paraíso.


O fato de saber que estou errado, só piora as coisas. A culpa me esmaga e mais uma vez entro no ciclo da fuga.

Estou cansado... não quero mais querer essas coisas.


Ouvi eles falarem que existe Esperança, e acredito!

E se um dia eu não der conta definitivamente da realidade, saiba: nunca deixei de acreditar! Nem um segundo sequer. Existe Esperança!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Piadinhas


“Você merece ser feliz!”, “Largue as dores do passado e viva o presente.”, “Ser jovem é um estado de espírito”, e por aí vai...
Já ouviu isso? Ou já falou coisas assim?

Fico assustado com a quantidade de gente que realmente acredita nessa “sabedoria” enlatada disponível nos piores estabelecimentos existentes.

Não, você não merece ser feliz, simplesmente pelo fato de que felicidade não é uma medalha de honra ao mérito. Se assim fosse era só seguir a cartilha das 1001 técnicas para alcançar a felicidade e “plim”, se tornaria um ser humano feliz. Só que a vida é imprevisível, ou seja, você pode até merecer ser feliz por julgar-se uma boa pessoa, e no final das contas não ser. O universo não assinou um contrato de colaborar contigo de acordo com suas ações.
Definitivamente felicidade e mérito não estão intrinsecamente ligados.

“Largue as dores do passado e viva o presente.”
Ninguém que chegou no momento presente surgiu do nada. As pessoas trazem consigo histórias, vivência, lembranças. Ignorar isso é negar a própria existência. O que você é hoje reflete muito as escolhas do passado.
Sem contar que esse pensamento traz implícito a ideia de que tudo que passou é ruim e fez sofrer, porém tudo que virá é coberto da mais cristalina perfeição e satisfação. Um erro e uma ilusão.

“Ser jovem é um estado de espírito.”
Ser jovem é um estado de espírito? Essa é só mais uma das mentiras que o politicamente correto nos fez acreditar. Talvez esse seja o conforto daqueles que de fato não sabem lidar e aceitar a velhice. Precisam se sentir jovens, necessitam ouvir isso, mas no fundo sabem que estão caminhando lentamente (alguns nem tanto) rumo a morte.
Alias, abro aqui um parênteses: quem diz não temer a morte por convicções de fé, por coragem, por loucura, ou sei la o que, é um mentiroso de grandeza maior. A morte não é amiguinha do ser humano. Dentro da tradição cristã, é o último inimigo a ser batido. Fecha parênteses.
Penso que o mais coerente seria dizer que jovialidade é também um estado de espírito. Mas um velho, ou politicamente correto dizendo um idoso, será sempre um idoso, por mais descolado que seja.

Em suma, curta a vida! Agradeça a Deus pela dádiva do momento presente. E ainda quando tudo der errado e a vida estiver imersa na mais profunda angustia, haverá uma infinidade de motivos para ser grato.

Não, eu não sou otimista, apenas acredito na Esperança.

Se isso não lhe parecer plausível, tudo bem. Corra para a autoajuda! O legal da autoajuda é que possibilita boas risadas. O problema é que as vezes ouvimos algumas piadas e acreditamos nelas como verdade. Mas piadas serão sempre piadas...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Angustia da finitude


Sinto-me sonolento, mas ao mesmo tempo agitado demais para dormir.
Meus olhos fecham, abrindo um universo de ideias e pensamentos fervilhantes que queimam minha mente.
Não desligo, não encontro aconchego, meu corpo dói.
Situações, ações, acertos, erros, culpas, desculpas... tudo isso me invade ao mesmo tempo.


Remoer a finitude é meu vício, inconformado ante a degradação lenta do meu próprio corpo. Por que quero ser pra sempre jovem?

Talvez porque envelhecer não valha a pena. Afinal, que prazer há em se olhar no espelho e perceber a beleza, virilidade, jovialidade indo embora a cada dia? O que há de bom em sentir seu corpo esvair-se até a mais completa falência? Ou pior, qual o sentido em viver em um corpo definhado, desgastado e maltratado pela impiedosa ação do tempo?


Apesar de tudo não sou pessimista ou niilista. Talvez um pouco trágico, mas um trágico que acredita na Esperança.


Tenho aprendido que quanto mais se tenta “agarrar” a vida e suas experiências de prazer, mais as perco entre os dedos e menos desfruto delas. Começo a entender que só se vive a vida quando a deixamos passar. Deixar passar é usufruir o momento sem tentar retê-lo, pois isso é frustrante e impossível.


A vida é pra ser vivida intensamente e algumas vezes loucamente, através da perspectiva da Esperança e da gratidão.


Essas são algumas pistas, apenas o inicio de uma longa trajetória.

domingo, 8 de janeiro de 2012

VIDA


A partir dos olhos infantis é compreendida com simplicidade, ternura e com boas doses de descompromisso. Todos são iguais independente dos bens, da cor, crença. É a utopia do mundo ideal tão sonhado pelos adultos.


Brigas e desavenças vem e vão na rapidez e talvez na intensidade de uma chuva de verão: num piscar de olhos amigos para sempre se tornam inimigos mortais e voltam a ser amigos para sempre.

Não existe muito espaço para ressentimentos e rancor. Para uma criança, poucas coisas tiram o brilho e o colorido da vida.


Porém crianças não entendem muita coisa sobre o mundo e a complexidade de viver, por isso muitos adultos tendem a optar pela ignorância afim de evitar a dor e o sofrimento. Isso adianta alguma coisa?


Como sabiamente disse
Isaac Asimov, se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.


Ser adulto não é fácil, implica em enfrentar muitas dores. Crescer dói. Maturidade só vem quando paramos de fugir da vida e passamos a tratá-la com o devido cuidado, respeitando seus inúmeros mistérios.

É preciso admitir que não temos muitas respostas, que não sabemos de muitas coisas, que não entendemos um tanto de outras, que as pessoas são diferentes, que muitas coisas podem simplesmente não fazer ou ter o menor sentido. E sim, assumir nossas culpas, problemas, limitações, nossa própria finitude.


No mundo cor-de-rosa, as flores são de plástico.